História

Um olhar sobre a diversidade

Num mundo de grandes desigualdades, nem sempre é fácil lidar com a di­ferença. Ela está em toda parte. Por vezes, é mais simples percebê-la quando a questão envolve apenas dois times de futebol, duas religiões, dois partidos políticos, duas formas de agir. Na abordagem de temas mais complexos, ou simplesmente se a proposta exige um exercício crítico rigoroso, podemos di­zer que, mesmo entre os mais semelhantes, habitam numerosas diferenças – afinal, cada ser humano é único no conjunto de suas características.

Viver em sociedade implica a necessidade de uma postura em relação às di­ferenças – essa tende a ser uma condição comum até para quem busca com­preender a ética ou a justiça. Mas, e quando as diferenças não são perceptí­veis? Ou melhor, o que ocorre quando, em vez de reconhecê-las (e valorizá-las), passamos ao largo e assumimos o posicionamento de quem prefere fin­gir que elas não existem?

Em primeiro lugar, para que um assunto gere discussão e divergência, é preciso que ele seja abordado. Do contrário, a tendência é supormos que o nosso ponto de vista é o único correto. Mais que isso: quando atribuímos juízo de valor às semelhanças e às diferenças, perdemos de vista o que elas podem proporcionar de melhor para uma compreensão mais apurada do mundo em que vivemos. Não deixar que elas se revelem é negar uma pos­sibilidade essencial para a transformação da sociedade: a partir dessa per­cepção, reformulamos nosso modo de ver as coisas do mundo e, por con­seqüência, o próprio mundo. Esse seria o papel do verdadeiro cidadão, ou seja, descobrir que tipo de conseqüência tem origem no ato de interpretar o mundo, de uma forma ou de outra. Com essa visão, a descoberta das di­ferenças pode ser uma experiência enriquecedora.[...]

A História oficial relegou aos negros um papel secundário, dificultando o caminho em direção à sua inclusão social e criando um estado de desigual­dade difícil de ser alterado. Difícil, mas não impossível.

O primeiro passo para mudar esse quadro é o entendimento de que há, sim, uma discriminação racial. Ela acontece ora de maneira mais explícita, como nas piadas, ora de forma mais velada. O número reduzido de negros ocupando os cargos mais altos das empresas é um bom exemplo. De um modo ou de outro, a ação silenciosa do preconceito tem mantido os índices de desigualdade em patamares inaceitáveis para um país que se pretende democrático. De posse dos números e observando a realidade com alguma isenção, devemos deixar de lado o mito de que as condições são iguais.

Vale ressaltar que a desigualdade não se reflete apenas nos indicadores so­ciais ou nos desníveis de renda: essa é a expressão mais evidente do racis­mo. Ela evidencia uma estrutura cultural e social que acaba por masca­rar uma discriminação mais profunda: a desvalorização, desumanização e desqualificação, ou o não-reconhecimento simbólico das tradições, saberes e fazeres do povo afro-descendente.

Devemos levar em conta que tal desigualdade não é exclusiva com relação aos afro-descendentes: outros grupos étnicos, raciais ou religiosos pade­cem com essa estrutura excludente, no Brasil e no mundo.

Baseados nesses fatos, devemos nos perguntar: o que é preciso fazer para minimizar as diferenças no desenvolvimento social?

 

Fonte: Saberes e fazeres, v.1 : modos de ver / coordenação do projeto Ana Paula Bran­dão. - Rio de Janeiro : Fundação Roberto Marinho, 2006

116p. (A cor da cultura)

O que é preciso fazer para minimizar as diferenças no desenvolvimento social?

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